segunda-feira, julho 02, 2007

Banana

No dicionário:

s. f., Bot.,
fruto bacáceo, de polpa mole, doce e agradável, que provém da bananeira;
ficha eléctrica individual;

s. m., fig.,
indivíduo sem energia;
pateta;

adj. 2 gén.,
palerma;
molengão.

É ao substantivo masculino e ao adjectivo que me refiro. Pior que isso, refiro-o para me identificar e qualificar. Faço-o à conta desta tendência para não matar uma má ideia à nascença só porque sei que a sua concretização é num futuro que se advinha longínquo.
Maio de 2006: “Se as notas do final do ano forem boas, podes fazer uma pijama party cá em casa.”
Reflexão nesse mesmo momento: O mérito até à faculdade, é uma obrigação, não deve ser premiado. Antes o demérito deve ser diagnosticado e corrigido. De qualquer forma não lhe ficava mal brilhar um bocadinho. Ter um ou outro “muito bom” para quebrar a maré de “bons”. Mas de que prémio estamos a falar. Uma pijama party ? O que é isso ? Convida um ou outro fedelho para vir de pijama cá a casa ? Caguei. O que quer que seja pode ser que não aconteça e se acontecer hei-de-me safar.
Junho de 2006 O estupor do miúdo chega com a boa nova. Um “el tuti”. Cada nota, cada “Muito Bom”. Trabalha por objectivos ? Só se esforça com cenoura à frente ?
A inevitável pergunta “Pode ser para o próximo fim de semana ?”
A reposta alivia-me a tensão. “Não é assim João Maria. É preciso primeiro arranjar um bom fim de semana para o evento, de preferência sem festas de anos, convidar os amigos, arranjar sítio para os teus irmãos irem e pronto. Fazemos a Pijama Party”. Se eu não dissesse nada nesta altura, teria que me calar para sempre. Acabo com a pijama party agora ? Claro que não. Banana. Banana. Banana. “Isto só deve ser lá para o Outono. Pode ser que se esqueça, ou que tenha tão más notas na 3ª classe que viabilizem a anulação da promessa.”
(...) férias (...) início das aulas (...) aniversários deles (...) natal (...) aniversários dos outros (...) carnaval (...) aniversários dos outros (...) páscoa (...) fins de semana em São Martinho. A promessa era de quando em vez relembrada mas de forma pouco consistente, quase diluída. Foi então, que num repente, aproveitando o facto de eu estar entretido com o novo aquário de 120 litros:
- Dia 30 fazemos a Pijama Party do João.
Não se tratava de uma pergunta, nem requeria qualquer validação, apenas uma comunicação interna.
Como que por magia, já existia a lista de convidados, devidamente validada com o João e os convites já estavam na mão dos destinatários. Seis meninos com o João.
- Não sei se conseguimos colocação para o Manel e para o António.
Sortes distintas para estes dois. O Manel conseguiu colocação em casa de um amigo (o irmão dele era um dos convidados do João, troca por troca, justíssimo portanto e até benéfico, porque o Manel é uma doce peste e o irmão convidado é uma paz de alma), o António manteve-se lá em casa para garantir que os níveis de equilíbrio não desciam abaixo do caos permanente.
A pijama party começou às 2 da tarde de sábado, hora a que ninguém está de pijama, a menos que esteja doente ou de ressaca. Até às 8 da noite os meninos e a menina foram aparecendo. Afinal não eram seis com o João, eram seis sem o João, sete portanto. Oito com o António. Mais a Ana nove, que também, garantiu o nível adequado de caos institucionalizado, promovendo o seguinte conjunto de actividades:

“Jogo de futebol na Alameda – a inteligência emocional aos 8 anos. Como lidar com a derrota, o insulto ao árbitro - pai do jogador, a expulsão, a agressão, e o relvado cheio de cocó de cão”,

“Workshop de cozinha italiana – faz a tua própria piza e espalha mozzarela pela cozinha e se conseguires pelo resto da casa”,

“O duche em linha de montagem. 7 duches em 7 minutos”

“O banho de emersão com espuma - o privilégio das meninas convidadas”,

“Mascara-te às dez da noite – o pijama não está com nada e as máscaras estão num caixote na mais alta prateleira mais do armário. O escadote e as dores de costas.”

“Actividades lúdicas depois das 11”

"Realidade Virtual: transforme 3 camas em 8"

"Aritmética divina: a multiplicação das almofadas e as fronhas quânticas"

“Sessão Prática: Como adormecer 8 selvagens em menos de duas horas e sem ultrapassar as três palmadas”

“ Sessão Radical – só para profissionais – Estancar uma hemorragia nasal às 5 da manhã, e contrariar a lógica de grupo ‘Já não temos mais sono, vamos jogar Playstation’”

“Sessão Extra: o sofá e as dores de costas”

“Sessão Matinal com Troféu – a higiene dentária em grupo, o pequeno almoço e os morangos com açúcar. Quem tomar o pequeno almoço mais afastado da cozinha, ganha uma menção honrosa.”

“Sessão Culinária – os segredos do esparguete à bolonhesa para 10 pessoas. A gestão do queijo ralado.”

Findas as actividades, foram abandonando aos poucos, até que às 19 regressámos ao sossego do lar: Só nós os cinco. Que paz. O João Muito feliz da sua pijama party, mas muito triste por já não estar com os amigos.

Acabou-se a bananice. Pijama party’s para os outros, só lá para os tempos de universidade e com estatuto de paridade: 50 % de raparigas, para equilibrar a tarefa dos banhos.

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