A última coisa que me disseste, ainda neste
domingo, foi “Obrigada” e vai-se a ver quem tanto tem para agradecer sou eu.
Agradeço-te a vida, o orgulho infinito e o amor pelos teus filhos, o exemplo de amor entre ti e o pai, dos pequenos almoços em Tibaldinho em que lhe lias textos e como tu sabes sobre bem ler, agradeço-te a escrita e que abada tu me dás no bem escrever, agradeço-te as gargalhadas, as teimosias, o mau feitio, agradeço-te as explicações de francês na cozinha, e as duas latas de espargos que me fizeste engolir quando todos acharam que eu tinha engolido um pedaço de vidro e a Levy disse que a única salvação era dar-me os malditos espargos. Agradeço-te o amor pela Ana que recebeste como filha, o amor aos teus netos sempre atento sempre preocupado sempre alegre sempre intenso como é o amor das avós. Agradeço-te a falta de jeito na cozinha que me ajudou na culinária e a sabedoria da avó Alice que sempre recordavas “Mãe preguiçosa faz filha habilidosa”. Agradeço-te os amigos todos que nos enchiam a casa, os Natais com ceias absurdas e estranhos à mesa porque não terem com quem cear, e as regras que tentavas ensinar-me e que eu insistia em contrariar “O homem ir do lado de fora do passeio? Se calha a cair um piano de uma varanda, quem leva com o piano em cima é a senhora”. Agradeço-te as pegas feitas em linha e que estão para durar na minha cozinha e dos meus amigos, agradeço-te até aquelas frases que sempre me deixaram meio em pânico: a primeira que me lembro “Quando o pai chegar em casa logo falamos” e a última que me lembro “André, o computador não acende”. Agradeço-te teres escolhido a mesma data que a Elis Regina escolheu para partir, parece que 19 de Janeiro é dia de partida de mulheres que partem para ficar
Agora deves estar com o pai a pôr a escrita em
dia, dá-lhe um enorme beijo meu e dá-lhe este recado que tantas vezes dizias sobre os
outros “A mãe é uma valente”
Obrigado Mãe