quinta-feira, setembro 19, 2019

Dezoito aos dezassete


Pouco mais de um mês para os teus dezoito, meu loiro dos caracóis. Bem sei que andas há uns tempos com a urgência desta idade porque tamanha a injustiça de não seres maior, mas é que não temos pressa nenhuma de seres adulto e, de quando em vez, ainda és bebé de coeiro de cabelo loiro, cara vermelha e ranho no nariz. Tens pressa da carta de condução e por isso o mata-velhos vai dando para os gastos, tens pressa de poder trabalhar que a mesada parece sempre tão curta para tanta coisa, para tanto surf, para tanta saída, para tanta viagem, tens pressa para poder votar nas eleições do Sporting porque aquilo não está nada bem e precisa do teu apoio, tens pressa para os copos à noite como se já não os houvesse à conta daqueles que já lá chegaram. A bem da verdade, há dezoito anos que tens pressa. É que o bochechas desbravou caminhos que te são tão urgentes. E em cada pressa tua, existe a nossa esperança um tudo nada feita de saudade.
Esperança que nunca percas essa tua irritante determinação, bem sei que por vezes a trato por teimosia, que te faz perseguir cada desígnio que enfias nessa cabeça. A mesma determinação que fez a marca “Nós no Pescoço” para venderes a todas as tias e a mais meio mundo, colares e pulseiras e que nos fez ir um sem número de vezes ao Martim Moniz buscar matéria prima nas lojas de chineses e indianos, e outro número de vezes para as feiras e para a praia porque os fregueses não podem esperar e porque se não te comprarem a ti vão comprar a outro qualquer. A mesma determinação que, com a cumplicidade da mãe, nos fez mudar mais uma vez de casa, o que aliás era obviamente essencial para que cada um tivesse um quarto e aquele sotão em open space já não vos servia a adolescência. A mesma determinação que te faz levantar de madrugada para chegar às 8 a Carcavelos e a porcaria do mata-velhos só anda a 50 e marés e ondas, são como tu, não podem, tampouco, esperar. A mesma determinação que te fez persistir na matemática porque a média de entrada não vai para baixa e se não for em Gestão mais vale fazer um gap surf-rambóia year.
Esperança que nunca deixes de ter, debaixo desse feitio-capaz-de-nos-deixar-à-beira-de-um-ataque-de-nervos-e-de-um-par-de-estalos-nessas-fuças, aquela dose certa de emoção que dá de si quando a dor ou a alegria te apanham em armadilhas.
Esperança que não leias este post, feito também de um imenso orgulho, antes de teres idade para não te envergonhares dele. Sem pressas.
Parabéns adiantados (lá quero saber de superstições) meu amor, meu loiro dos caracóis.