Um tipo tem uma data de apelidos. Porque fica bem e contribui para a igualdade do género, ter dois do lado mãe e dois do lado do pai. E mais uns "de" e "do" pelo meio, só para acamar. Tudo junto, com o primeiro nome e sem contar os espaços em branco, são 32 caracteres. Isto dá 20 segundos para escrever o meu nome em vez dos 2 que demoraria se eu me chamasse Zé Sá. Ora 50 anos, a escrever o nome completo umas duas vezes por semana…. é fazer as contas. 26 horas que o estupor do Zé Sá, que nasceu no meu ano, teve para fazer outras coisas que não fossem escrever o nome completo. Em compensação, tem um nome que parece ser filho de um casal de receitas de bacalhau. Infância infeliz a deste Zézito. Filiação: Zé do Pipo e Maria Gomes de Sá.
Ora como se não bastasse e exagero do nome, bem sei que há maiores, um tipo chega a esta idade e cada vez que tem que escolher a data de nascimento num formulário on-line, faz um scroll de umas trinta voltas da roda do rato para encontrar o bendito 1967. Já o adolescente que cresceu rodeado por tecnologia, encontra à primeira o seu irritante dois mil e qualquer coisa. Chegamos a esta idade e só à conta dos formulários online sujeitamo-nos a arranjar uma tendinite e uma artrite no indicador da mão que usa o rato. Dá jeito, porque aos quarenta passámos a usar óculos e a vigiar a próstata (e vigiar aqui é um termo muito simpático face aos actos médicos envolvidos na vigilância prostática), depois a coluna começa a dar de si, aparecem as lombalgias que nos fazem acreditar que deve ser agradável acordar com garfos de fondue espetados na coluna, isto para não falar do cabelo que esse, graças a Deus, desde os 18 que começou a peregrinação da minha cabeça sabe-se lá para onde, dos dentes que têm que ir à revisão duas vezes por ano e de tudo aquilo que nos acontece porque, incautos, ainda nos achamos com a agilidade e a destreza dos 20. Dos 30 vá. Quedas de bicicleta do passadiço abaixo por exemplo, ou o torcicolo à conta do pino cambalhota na praia. Quem disser que os cinquenta são os novos trinta ou quarenta está só a ser… Como dizer isto? Parvo? Os cinquenta, são é os novos cinquenta. Iguaizinhos aos anteriores, mas com a tendinite no indicador da mão do rato graças à tal da user experience de que tanto se fala.
No outro prato da balança, havia de estar a sabedoria que, inevitavelmente, vem com a idade. Acontece que, no meu caso, está atrasada, o que por si só explica e enquadra a queda da bicicleta, o pino cambalhota, aquela tendência absurda para cair vestido dentro de água, o jogo de padel que quase rebento a rótula com uma raquetada mal calculada e outras coisas menores e melhores como noitadas de copos e amigos, a gastronomia farta em excessos ou esta montanha russa que é o Benfica capaz de me levar da euforia à depressão e vice-versa em poucos dias. Enfim, nalgumas coisas a sabedoria há-de chegar, nas outras há-de tardar, porque convenhamos, asneirar também tem as suas virtudes e a vida também se faz destes pequenos prazeres, preferencialmente bem acompanhado. Afinal de contas 50 é só um número redondo que adquire aquele élan por ser tendencialmente o único múltiplo de cinquenta que um tipo celebra. Tomara mesmo que seja, porque o tubo da algália embrulhado com a corrente do triciclo da 3ª idade deve, além da queda aparatosa, dar umas dores capazes de fazer inveja às lombalgias dos jovens de 50.
quarta-feira, setembro 13, 2017
domingo, setembro 10, 2017
50 e então ?
Gosto de Agosto. Gosto pronto. Pelas férias, pela Lisboa
deserta sem trânsito, pela praia que nem gosto tanto, mas que sabe bem no
começo e no fim do dia e na hora da bola de Berlim, pelos amigos nas férias, as
festas e, pasme-se, as feiras. Essa de São Mateus ou a deste ano em Grândola
sempre morena e da fraternidade. Gosto do fim de Agosto porque se aproxima dos
recomeços, dos regressos e das rentrées. Porque faço anos também e desta vez,
palavra de honra que foram 50. Redondo o raio do número e veio com direito a
festa com os que estavam por perto e prendas carregadas de histórias. Sobretudo
um livro. Um livro feito de histórias e contributos e memórias. Um livro feito
de trabalho muito trabalho, feito de amor, tanto amor. As histórias tiradas
deste blog, as fotos tiradas ao longo das 5 décadas, os contributos escritos por tantos que as partilharam comigo e me escreveram como se de poesia se tratasse. E foram tantos
contributos, tantas peças costuradas com cuidado neste livro
capaz de me arrancar risos, lágrimas, saudades e amor. Tanto amor. Obrigado a
todos. Obrigado meu Amor.
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