Em conversa com um brasileiro há muito residente em Portugal, perguntei-lhe sobre estes tempos de conturbação no Brasil. Ele puxou da fácil definição: "O Brasil é um Portugal sem travões". Faltou-lhe dizer que Portugal é um Fiat 500 e o Brasil um Cadillac. Ambos com fugas de óleo, folgas na direção, consumos exagerados e a precisarem de ir rapidamente à oficina, mas a ostentação Brasileira contrasta com a modéstia Lusa.
Nos últimos anos assistimos em Portugal ao mais cinzento período de que tenho memória. Um condutor obcecado pelo consumo, e ao seu lado, no lugar do morto, a figura pálida de um passageiro que alterna entre o dormir e o babar-se durante toda a viagem. Durante esses tempos de governo a preto e branco e de presidência a cinzento claro e escuro, muitos Portugueses contestaram a presença daqueles nos lugares da frente de Portugal. Acontece que, quer um quer outro, foram colocados pelos mecanismos previstos pela nossa democracia e saíram no final dos respetivos mandatos. Hoje, ao volante, temos um condutor que guia de outra forma, contestado por não ter sido o mais votado, lícito por ser escolhido pela maioria dos deputados. Ao seu lado a figura é um atento co-piloto, feito às cores e adepto confesso de afetos. Se o Fiat faz o sinuoso trilho que tem pela frente é uma interrogação para a qual não há certezas, mas caramba, pelo menos o bólide anda. As fugas vão sendo diagnosticadas, algumas descobertas e dessas , algumas são resolvidas com a lentidão de uma oficina pouco ágil e habituada à morosidade da justiça.
No Cadillac do Brasil, espanta-me a possibilidade do condutor ser retirado à força do volante. Há mecanismos previstos para que o presidente seja afastado da presidência, mas a força nunca será um deles. A corrupção devia ser o alvo a abater e os brasileiros andam entretidos em batalhas de rua entre apoiantes da corrupção e apoiantes da corrupção alternativa à corrupção. Diz-se que um povo tem os políticos que merece, mas, palavra de honra mesmo perdendo 7-1 com a Alemanha, o Brasil não merece estes políticos. Nem sei o que diga sobre o que se assiste do lado de lá do oceano. Lula já foi nomeado e suspenso e suspendido na suspensão da nomeação umas trezentas vezes, a justiça participa em manifestações, Lula questiona-se sobre o paradeiro das mulheres de grelo duro e as pessoas não podem andar de encarnado porque podem ser alvos de violência. Esta é que me deixou de rastos. Eu até pensei que fosse uma espécie de questão futebolística como aqui acontece. Como ser arriscado ir vestido de Benfica para o meio da JuveLeo. Mas não. É só litigio da cor da corrupção. Ainda por cima, num país em que muita gente consegue na mesma indumentária juntar verde e amarelo, com que moral resolvem espancar quem anda de vermelho? Tenham paciência. Com as combinações de cores que se vêem por ali eu acredito que haja gente que só à pancada. Mas por causa do vermelho ?
Eu acho que a solução óbvia é pegar no nosso ex presidente e enviá-lo para o Brasil. Cavaco jamais perguntará "Onde andam as mulheres de grelo duro?" . O máximo que Cavaco pode perguntar é "Aqui não há bolo rei mesmo que seja duro?". Depois Cavaco não é corrupto. Pode ter amigos que são, mas esses têm a mania de fugir para o Brasil, portanto, para Cavaco, ir para o Brasil não é mais que ir visitar amigos. Por último Cavaco é muito amigo do Carnaval, já desde o tempo em que era primeiro ministro e portanto aquilo do País do Carnaval era como peixe na água.
Eu sinceramente acho que ia ser bom para ele, para os Brasileiros e já agora para nós. Assim do ponto de vista do cinzentismo exibicionismo do bolo alimentar.