Excelentíssima professora:
Tendo um profundo apreço pelo seu
método de ensino, e reconhecendo a importância dos petizes conhecerem os principais
cursos de água deste país, venho por meio desta sugerir-lhe que nos próximos
trabalhos de casa, peça às crianças para saberem tudo sobre outro rio que não o
Sado. Entendo que a bacia do Sado seja particularmente interessante, bonita,
com golfinhos e Arrábidas e Tróias, e que o Sado nasça na Serra da Vigia, que
será porventura um local de beleza inigualável do Alentejo, mas havendo tanto
rio neste país, podia escolher um em que o Google não sugira imagens de Sado-Masoquismo.
Nada tem a ver com uma eventual
tentativa de afastar determinados temas da educação das crianças, mas é que aquela
imagem de senhores e senhoras vestidos com roupa interior em coro, chicotes e
correntes distraia-os muito do tema fluvial. Em vez de quererem falar dos
afluentes e da foz, insistem em obter explicações sobre aquelas sugestivas
práticas. Neste contexto, reforço o meu pedido para que a senhora professora
eleja o Mondego como rio para trabalho de casa. Mesmo não tendo golfinhos.
Pedia-lhe ainda o favor de, caso
o tema venha à baila, ajudar a explicar porque é que há pessoas que gostam de
misturar alguma dor com coisas que lhes dão muito prazer.
Só mais uma coisa, se ele disser
que é como estar a comer esparguete à bolonhesa e gostar de levar uma vacina ao
mesmo tempo, não ligue. São coisas de criança.