terça-feira, março 23, 2010

Dia do Coxo

Apesar de pouco falado, não quero deixar de assinalar aqui o Dia Nacional do Coxo. 23 de Março, para quem não saiba, é o dia do Coxo(nunca escrevi coxo com maiúscula) e se numa primeira leitura parece não ter grande importância, uma análise mais cuidadosa revela a verdadeira dimensão da causa manca. A nossa economia está trôpega, a cultura é manca, a educação coxeia, a saúde parece perneta, o emprego está de cadeira de rodas, a habitação tropeça em tudo, o governo está com dificuldades de locomoção e a oposição arrasta-se. O nosso país está todo a coxear e só não sugiro uma peregrinação porque peregrinos coxos estradas municipais fora, envergando coletes fluorescentes, fazem efeito de amarelo e laranja luminoso nas bermas e com toda a certeza provocam acidentes.
Andamos pois todos coxos e este é um dia que a todos nós diz respeito. Descubram o coxo que há dentro de cada um de vocês e festejem o dia. Vão ao pé coxinho para casa e joguem à macaca.

terça-feira, março 16, 2010

Pequenas aprendizagens de fim de semana

1. Por muito semelhantes que sejam, açúcar e cerelac não devem ser confundidos, na confecção de caipirinhas.
2. Se, por ingestão excessiva de caipirinhas, deixar cair o telemóvel na sanita, enfie-o numa taça cheia de arroz para que este absorva a humidade. Também serve para outras razões que o levem a deixar cair o telemóvel na sanita. Findas 24 horas, o telemóvel estará praticamente operacional. Aproveite e faça arroz de sms's.

terça-feira, março 09, 2010

Na sala

É engraçado entrar na sala e ver-vos a todos sentados em carteiras, primeiro ano com direito a carteira, tantas vezes maior que tu. Fico zonzo com o teu ar de felicidade extrema por nos teres lá a assistir à tua aula. Não te preocupes, é próprio da idade. Daqui a quarenta anos só a ideia de teres os pais a assistira a um dia de trabalho, vai deixar-te constrangido, a menos que o teu futuro passe pela carreira de funcionário da EMEL e, nesse caso, vais rezar para que não aconteça, porque levas com a bengala do pai e a algália da mãe nos cornos. Onde já se viu? A bloquear o carro aos senhores.
A parte da frente da carteira, tem um tampo, e debaixo do tampo, tem espaço para as pernas. Parece impossível que as tuas nunca lá estejam e andem, como a agulha de uma bússola estuporada, sempre longe do local criado para o efeito. Gostei tanto de ler na tua classe, de já saberes da letra t e de a colares ao contrário na folha de papel. No recreio, ia-me dando a tronglamongla de tanto rodopiar os teus amigos rumo ao infinito e mais além. Aquele jogo do pisca pisca, é um bocadinho panhonhas. Piscar o olho uns aos outros é panisgas. Hás-de pedir à Professora Emília para vos ensinar a jogar ao bate pé que é muito mais animado e confere horas intermináveis de gestão da autoestima.
Adorei assistir à tua aula, e ganhei um quadro de pirata lindo. Agora já quase sabes ler, e finalmente a taxa de analfabetismo lá de casa regressa a zero, após onze anos consecutivos de valores acima dos 20%. É verdade, quando souberes escrever, lá para Maio, evita fazer panfletos insultuosos aos teus irmãos, como o Manel fez aos cinco anos.

quinta-feira, março 04, 2010

Nos lugares improváveis

Sempre o disse, gosto de matemática. Dos conceitos como o de assíntota.
Assíntota de uma curva é um ponto do qual esta se aproxima à medida que se percorre a curva. Quando essa curva é o gráfico de uma função, as assíntotas são as rectas que acompanham a função quando alguma das suas variáveis anda perto de infinito. É deste conceito que gosto. Da proximidade de duas realidades perto do infinito. Como as rectas paralelas que dizem combinam encontrarem-se por lá. É deste conceito que gosto, do da companhia em lugares improváveis. E então, e assim já tudo pode ser matemática. Já me é permitido dizer que o pote de ouro é a assíntota do arco-íris, que o céu é a assíntota do mar no horizonte, e que a estrada é a assíntota da copa das árvores. São a companhia em lugares improváveis. Agora quero ser a curva de uma qualquer função de amor, e quero-te sim, assíntota nos lugares improváveis, tão perto de mim quando algo tende para o infinito.

segunda-feira, março 01, 2010

Pasmaceira

Isto os médicos são meios estranhos. Agora, em exames de rotina, espetam-me um electrocardiograma ou medidor de pulsações contínuo que vai andar aqui 24 horas a medir sabe-se lá o quê. Resultado: ando numa pasmaceira que até me irrita, mas não devia, ou corro o risco desta coisa aos apitos.
Fui calmamente trabalhar, e no trajecto, parecia um profissional da condução de Domingo. Fiz três quilómetros atrás de um TIR carregado e cheguei a atingir 30 km/h. Deixei passar toda a gente nas passadeiras e não buzinei à senhora das muletas que atravessou na diagonal. Nas rotundas, deixei esvaziar todos os afluentes até entrar e demorei uns 40 minutos para lá do que seria necessário até chegar ao emprego. Mas não me enervei nem um bocadinho.
Já no trabalho, entrou um senhor aos berros com a minha equipa e até lhe pedi de forma muito tranquila, que usasse os canais criados para o efeito (entenda-se comunicar a desconfiança que algo não está de acordo com o estipulado).
À noite hei-de estar harmoniosamente em família. Os Marias vão a jogar à bola no corredor, formatar o disco do meu computador, destruir-me a Farmville e até podem fazer enchidos no tubo do aspirador, que eu muito pacientemente hei-de pedir-lhes para estarem um tudo nada mais sossegados.
Este aparelho aparentemente só mede, mas faz mais que uma caixa de valiuns. Acalma muito. O problema é que nos transforma nuns sabonetes, mosca mortas, capazes de verter baba, alforrecas, songamongas muito, mas muito irritantes. Não há-de faltar muito para o tirar do pescoço e arrancar os fios das mamas, que pareço uma playstation muito wire e pouco less, e ligar esta coisa ao segurança aqui da entrada que, esse sim, tem os batimentos cardíacos de um pargo congelado e demora 10 minutos a entregar um simples cartão de acesso. Amanhã cedo, saco-lhe o engenho e entrego-o conforme combinado para a leitura e interpretação adequada.