domingo, março 29, 2020

Apocalipse - dia quarto


Diz que o tele trabalho funciona melhor se mantivermos as rotinas de escritório. Levantar cedo, tomar banho, vestir uma roupa adequada a qualquer video-conferência que possa surgir o que pode incluir camisa, blaser e calças de fato de treino, embora pessoalmente opte pela camisa,pullover e calças de ganga, tomar o pequeno almoço e passear o cão. A menos da ausência do trajecto casa escritório, a manhã é em tudo muito semelhante a uma manhã de trabalho até que se aproxima a hora de almoço. Ora eu não tenho por hábito cozinhar o almoço quando estou no escritório e agora em quarentena as coisas não são bem assim.
Além do requisito de cozinhar o almoço, esta quarentena tem sido farta em desejos gastronómicos. Um destes dias fui invadido por uma vontade súbita de cozido à portuguesa e, entre descobrir que não conseguia via Uber-eats,  encomendar as carnes no talho, e preparar o cozinhado, levei cinco dias até o conseguir fazer. Além do cozido, já houve almoços de peixe ao vapor, chocos na grelha e bochechas de porco. Eu que despachava tantas vezes o almoço com um mc Donalds, um H3 em dias especiais, uma sandes de presunto e queijo da serra ou um prego. Não é do tempo e do esforço que falo. É mesmo da gula. É que se o vírus tem uma curva monitorizada, por aquilo que eu vejo nas redes sociais e pelas pessoionhas que estão comigo a fazer esta quarentena, a curva da gula atingiu toda a população e não há forma de lhe inverter a derivada. Devia haver um boletim diário sobre o número de infectados pela gula, e pela ansiedade, e pela neura também.
Além dos meus cozinhados, nesta casa já houve petits gâteuax feitos de origem, gnocchi feitos de origem, caril de vária ordem, doces de ovos moles, bolo de brigadeiro e biscoitos de todos os tipos. Esta quarentena protege-nos do contágio do virús mas está longe de nos proteger do nosso próprio e voraz apetite.
À cautela, a balança cá de casa, está isolada no caixote de lixo desde o início de março. Não vá ela querer dar algum recado a alguém mais impaciente e abrir um lenho a alguém que passe na rua quando for arremessada janela fora.

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