sexta-feira, janeiro 15, 2021

Apocalipse - dia décimo primeiro

Eis que, depois de um período mais ou menos longo com mais ou menos restrições intercaladas com alguns graus de liberdade, regressámos aos tempos de confinamento. A pausa na escrita não está relacionada com qualquer fim de confinamento, antes com o facto de, no início de Maio, ter chegado cá a casa a pior das decisões do confinamento. Já éramos poucos numa casa pequena, que resolvemos que os tempos de pandemia eram o ideais para integrar uma figura feminina na família. Podia ser uma tartaruga, ou uma galinha, ou uma iguana, mas não. A inteligente opção foi por uma cadela da mesma raça do cão que já por cá andava e ele é tão sossegado e precisa de companhia até porque estávamos todos enfiados em casa e o cão se sentia, com certeza, tão abandonado rodeado e mimado por nós os cinco.

O raio da cadela é o diabo com as orelhas compridas. Já está no nono mês de permanência cá em casa e só faz merda. Fazer cocó (que também faz) é uma necessidade fisiológica, mas fazer merda é um estilo de vida, uma escolha. Rói mobiliário, faz escalada e passeios sobre a mesa da casa de jantar e a bancada da cozinha, provoca o desgraçado do cão até ao limite da paciência, come papel higiénico que em tempos de confinamento deve ser considerado crime,  velas, coleções de vinil e de banda desenhada, mata as ovelhas do presépio – aquilo parecia a herdade da Torre Bela com as ovelhas todas abatidas e, pior que tudo, é adorável o que inviabiliza a opção do empalhamento.
Com a graça de Deus e do sr Ministro da Educação, neste confinamento, os estabelecimentos de ensino mantêm-se abertos o que mantém fora de casa, durante algumas horas, aqueles três adolescentes e jovens adultos simpáticos que coabitam connosco. Pena é que o diabo de orelhas compridas não frequente o ensino básico em regime de internato que sempre nos aliviava as camadas de nervos e as correrias de esfregona para as pequenas poças de xixi que, cada vez com menor frequência – diga-se, o monstro vai espalhando pela casa.

Só peço, nas minhas orações, que este confinamento não nos traga a insanidade do anterior porque senão corremos o risco de chegar a Fevereiro com uma cabra, uma vaca ou uma búfala  dentro de casa. Sempre dava para fazer manteiga e queijo e poupava na quantidade absurda de litros de leite que os estudantes semi confinados e o adulto confinado consome.