segunda-feira, dezembro 31, 2007

Nada melhor

... que os últimos dias do ano para fechar casos mal resolvidos.
A mesa da televisão estava desde 2006 assente em cima de revistas. A televisão é pesada, o IKEA não é famoso pela qualidade das madeiras. Conclusão: as rodas da mesa tinham afundado dentro da tábua de algo que parece ser pouco mais que cartão prensado folheado a faia.
Eu, que tenho tanta queda para a bricolage, como para o macramé, resolvi pôr mãos à obra e tratei de voltar a colocar a mesa em cima de rodas. Ainda pendurei uma prateleira que insistia em inclinar qual torre de Pizza. Na onda da bricolage, a Ana pintou um quadrado da parede do escritório dos Marias com uma tinta magnética. A ideia é pendurar na parede mariquices com uns imans sem precisar de quadro. Os pincéis foram lavados no lava loiças.
De volta para a minha zona de conforto, fui fazer o almoço. A bolonhesa estava com o molho demasiado espesso, pelo que aquele copo que estava no lava-loiças, era o recipiente ideal para despejar água no cozinhado. Parece-me ter visto alguma tinta magnética entrar para dentro do tacho. Não tenho a certeza. Se alguém encontrar uma família inteira agarrada ao frigorífico pelo estômago ou pelos intestinos, a explicação está dada.
Para terminar, algo que nunca falei. Por vergonha. Tem a ver com esta faceta de conseguir estar meia hora a babar-me em frente a um recepiente cheio de água e de algas. Fica aqui a imagem do aquário que montei este ano



Bom ano para todos.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

70 anos

Como é costume acontecer por esta altura, o meu pai fez anos, é uma mania que ele tem desde criança esta história de fazer anos mesmo coladinho ao Natal. Acontece que desta vez, por se tratar de um daqueles números redondos, múltiplos de dez, teve direito a uma imensa festa de amigos e famílias. Reencontrar pessoas que já não se vê há tantos anos, primos que mal nos lembramos, histórias das nossas vidas. Também teve direito a discursos, de sobrinhos, filhos e netos e como sempre, quando se discursa, falta-nos a serenidade e o tempo que nos oferece a escrita, e quando discursei falei sobre um rascunho de um post que haveria de colocar aqui:

Gosto Tanto de Cinema
Gosto do cinema pronto a consumir, como gosto dos outros cinemas, de outros lados, de outros autores, de outros sotaques de outras cores e luzes.
O meu pai tem responsabilidade nisto. Acho que foi no cinema Europa, ali mesmo ao lado de casa, no intervalo do filme. “André tenta perceber o que nos mostra o filme para lá do que o filme nos mostra.”
Aquilo soou-me a conversa da treta. “Lá vem este gajo com merdas estranhas. O que é que ele quer dizer com isto ? O que é isto de ver para lá do filme ?”
Ao longo dos anos, e de quando em vez, a frase vinha-me à cabeça enquanto assistia a um filme e casava com o que eu pensava enquanto via o filme. Para lá do filme.
Um dia levou-me a ver as filmagens de anúncios. Um anúncio de Sugus no Portugal dos pequeninos. Dois dias de 40 graus a filmar miúdos armados em gente grande, com a banda a passar. Sempre a mesma música, “SUGUS de fruta tanto sabor”. O que eu porém cantarolava durante esses dias, era sempre Chico. Para mim, aquele anúncio merecia a Banda do Chico:

“A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor”

Acabei por trabalhar durante alguns verões numa produtora de filmes publicitários. Definitivamente eu gostava daquilo. Dos reflectores, dos carris, das claquetes, das luzes, da fita, das pessoas, das girafas, das gruas, dos mini brut, das pancadas das pessoas. Aqueles gajos dos 35 mm têm muitas pancas, mas têm muita piada. São chatos, minuciosos, geniais, divertidos, mal criados, cuidadosos e sobretudo loucos. Quase todos sem excepção, cultivam uma saudável dose de loucura. Se assim não é, era assim que os via dos meus treze anos.

Para além do cinema, do Chico, do Jazz, foi sobretudo ver o filme para lá do filme que o meu pai me ensinou. Tentar chegar além do óbvio. Acho que foi isso que ele quis dizer. Parabéns Manecas.

domingo, dezembro 16, 2007

Monstros e Companhia

Abro a cortina do banho e o mais novo está mesmo ali especado. Reparo que não me olha para a cara, antes para a pila. Ainda pensei perguntar-lhe para onde é que estava a olhar, mas mantive-me calado, na vã esperança que desse meia volta e fosse à sua vida.
- O pai também tem pila.
- Pois é. E o João e o Manel também. Cá em casa só a mãe é que não tem pilinha.
- É grande
(Mau mau, isto vai acabar mal. O miudo tem três anos acabadinhos de fazer, além das cá de casa, não há-de ter visto muito mais pilas, é normal que a ache grande.)
- Parece um monstro
(O quêêêêêêêêêêê ???? Um monstro ???? Mas o quê ??? E o que é que a mãe está ali a rir-se que nem uma perdida? Que estupidez. Este miúdo deve ter uma deficiência cognitiva qualquer)
A conversa ficou por ali mesmo, saí a correr da casa de banho.
Depois de uma investigaçãozinha descobri que ele só conhece meia dúzia de monstros. Afinal a qual deles é que ele se estaria a referir ?

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Fora de tempo

Não era de se deter frente ao espelho para lhe observar os sinais. Perdeu facilmente conta às rugas, aos cabelos brancos, e às manchas na pele. Nunca foi seu propósito, sempre o viu como um companheiro. É que a boa companhia deixa sempre marcas. Mais do que as marcas, era a perca ocasional de mais um gesto que incomodava. Ainda há dias foi a abotoar os cordões dos sapatos, teve que se sentar para o fazer. Riu-se como se lhe desculpasse o dano “O preço da sabedoria. Só com o passar tempo se consegue o saber, e o passar do tempo leva tanto tempo a passar. “
A cumplicidade conquistada ao sentido dos ponteiros do relógio assegurava-lhe a imensa serenidade. Tomava-lhe o gosto a cada volta de cada um dos ponteiros, e em cada volta, o tempo das coisas a que se entregava a gosto. Como num trapézio sem rede balouçava nos afectos, no amor, nas coisas simples, e em cada triplo salto mortal agarrava com firmeza, o balanço da próxima barra, sabendo-a com a exactidão dos impossíveis. Tic Tac Tic Tac. Era sempre assim que se entregava ao tempo, em voos de tempos certos, nas certezas de páginas bem vividas. Como os trapezistas, via lá em baixo na pista, os malabaristas a contas com as laranjas no ar, de ritmos alucinantes, dos tempos perdidos, de tempos em falta, de tempos desperdiçados e inexistentes. Sorriu ao vê-los desbaratando contra o tempo. “Contra o tempo não se luta, é sempre a favor. É o que nos permite voar no trapézio, é o que nos confere os super poderes”. Quase garanto que ainda lhe dava o privilégio de um sorriso feliz de criança num rosto amadurecido.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Literatura

José Veiga vai lançar um livro com o título "Como tornar o Benfica Campeão".
A CaixadeCostura está em condições de avançar que este livro faz parte de uma colecção de duas dezenas de títulos, de onde se destacam os seguintes:
"Como tornar José Castelo Branco num Zézé Camarinha"
"Como tornar um político num engenheiro" (aqui o maricas cortou-se nos nomes)
"Como tornar a OTA num aeroporto"
"Como tornar a TVI numa estação de televisão de qualidade"
"Como tornar uma profissional da vida nocturna numa escritora de sucesso" (com prefácio de um presidente de um clube do norte)
"Como tornar a Madeira num país independente" (Co-autoria de João ALberto)
"Como tornar um corrupto num Presidente de Câmara" (antes de sair já esgotaram as 3 primeiras edições)

Aguardamos anciosos o lançamento destes títulos.