terça-feira, novembro 10, 2015

E morreram felizes ...

Este fim de semana fomos ao teatro. No pavilhão 30 do Júlio de Matos. Esse mesmo hospital de muros tão altos para evitar que os loucos entrem lá para dentro. O público obrigado ao silêncio e ao uso de máscara de cirurgia. Esse é o contrato. Não falar e usar a máscara e em troca a liberdade para passear pelas 27 salas onde a peça acontece, correr alucinado atrás dos personagens, escolher que personagens quer seguir, que cenas quer ver. Todas as salas vestidas a rigor num cenário hospitalar de 1949: instrumentos, mobiliário, salas, corredores, personagens, escadarias. Iluminação exemplar, encenação brilhante e boa coreografia. Teatro imersivo dizem, onde não há barreiras entre o espetador e os atores, e que falta fizeram algumas das vezes quando numa correria, numa cena violenta, ou no baile de abertura fazemos parte do próprio espetáculo. A simples história de amor de Pedro por Inês sabiamente enredada com a lobotomia de Egas Moniz é representada duas vezes para que possamos mudar de cenários, personagens, coreografias. A sensação com que fiquei é que ao fim de cinco idas ao teatro teria esgotado tudo o que há para ver naquela peça. O ambiente entranha-se facilmente no espetador e é fácil deixar-nos transportar. Saio divertido e com a sensação de tempo mais que bem empregue.

À saída foi inevitável pensar sobre que outros lugares que não um pavilhão hospitalar funcionariam como cenário para um outro argumento, uma outra tragédia uma outra história de amor. Seria estúpido não o dizer hoje, não o escrever aqui, seria estúpido no dia em que o governo de Passos caiu, não dizer que a assembleia era o outro cenário perfeito para uma outra história. Gritos, birras, poses, egos, semblantes alterados, coreografias, cenas violentas, escadarias, desesperos, choros, alianças, coligações, acordos, amores, disputas, ciúmes, pompas e circunstâncias, manifestações exteriores, manifestações no hemicírculo, assinaturas em salas parlamentares, Pedros, Paulos, Antónios, Catarinas, Jerónimos, Andrés.
Tantas peças podiam ser escritas para este cenário, até histórias de amor. O que hoje aconteceu, e acredito até que os fatos me desmintam, é uma história que pode dar muito certo se o amor ao país e às pessoas for maior que o amor aos umbigos e ao interesse de poucos. Este PS merece  o mérito de ter criado muitas ruturas com outras tantas tradições. A Assembleia é a casa mãe da democracia e nem vou pensar qual é a casa pai, e o que hoje assisti foi a democracia a funcionar. Vejamos quantos amores, quantos ódios e quantos orçamentos aguenta este enredo. Por mim continuo imerso nesta peça com a real esperança dos finais felizes. Já agora, quando falam de Passos perdidos, é disto que se viu hoje que falam não é ?



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