domingo, setembro 14, 2008

Surpresa

Já já alguns dias que se falava numa surpresa, que me estava reservada para Sábado à tarde. Nesta última semana, o assunto vinha à baila com uma insistência preocupante, acompanhado da necessidade de nos livrar-mos das crianças durante duas horas. Comecei a achar que o tema era a sério, a circunstância assim o pedia, e a menos do par de galhetas pelas ventas adentro, não estava a ver do que se poderia tratar.
No início da tarde, já de criançada devidamente distribuída por várias freguesias, lá sou quase arrastado para a supra citada surpresa. Rumamos em direcção à baixa, o que me permite afastar algumas das hipóteses formuladas: não ia fazer o baptismo de pára quedas onde por uma infeliz coincidência o dito não se iria abrir, e não ia estrear-me no Bungee Jumping de uma ponte qualquer a mais a maçada do elástico rebentar logo quando seria necessário que se mantivesse intacto. Postas estas hipóteses de lado, restava-me a vergonha de uma aula de danças de salão, uma sessão ainda mais embaraçante de massagens eróticas, ou um curso de marmoreados esponjados e dourados. Sou encaminhado para a rua dos douradores e num repente este último cenário ganha dimensões aterrorizantes. Suo das mãos e fumo dois cigarros em menos de três quarteirões. Finalmente chegamos quase ao fim da rua onde vejo dois locais candidatos à surpresa: uma porta tipo oficina e uma outra com um símbolo do tipo "ying yang".
"Estou tramado, vai-me pôr a levitar e vai transformar-me numa espécie de monge tibetano. O que é que lhe deu ?"
Afinal a surpresa era a porta tipo de oficina, e lá dentro um arsenal de veículos com ar de Espaço 1999. Amarelos, divertidos e apelativos. Além dos veículos, o que aquela porta guarda é uma ideia - GoCar. Uma ideia tão simples quão genial e divertida. Um veículo diferente, descapotável, de baixo consumo. Conduz-se como uma acelera, e tem um GPS que nos guia em tom de brincadeira por um ou mais percursos da cidade. Não explode quando nos baldamos à rota, tem passe para as zonas de trânsito condicionado do castelo e de Alfama, e num repente, transforma-nos no centro das atenções enquanto o guiamos cidade fora.
Não sei se dos capacetes, se do veiculo, se do GPS a gritar "Yupiiii" em cada descida alucinante, se do som de lambreta, mas em cada rua, em cada largo, somos apontados, fotografados e acenados. Rimo-nos e redescobrimos Lisboa em veículos do Espaço 1999. Uma hora e várias peripécias depois, regressamos à base. Hora de recolher os Marias. Por mim, tinha lá deixado o monovolume e vinha no bólide amarelo descapotável de três rodas, mas cheira-me que o transporte para o colégio podia alongar-se para lá do desejado.
Grande surpresa rainhas, e o meu banco nunca me ejectou a uma altura de 200 metros como cheguei a desconfiar que iria fazer. Da próxima vez levamos os Marias atados a uma corda para ajudarem nas subidas e para as marchas atrás.

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