sexta-feira, novembro 30, 2007

Gosto

da forma pões a franja em cima do arranhão para o esconder de todos, e que a coles à testa com cuspo,
de descer contigo sentados no corrimão da escada,
de te ver contrariar as partidas dos teus irmãos, dos pontapés na bola, e dos festejos de todos os golos, gosto quando apoias a tua inexistente equipa Benficaaaasportinnnnn”
quando agradeces “Obrigadodenada”,
de te ver a transportar dezenas de bonecos e carrinhos no cós da camisola para que os outros Marias não te assaltem,
dos mergulhos que dás, e dos assaltos que fazes às goluseimas,
de te ver adormecer numa das camas dos mais velhos enquanto te contam histórias, de ver dançar as músicas que gostas e de te ouvir cantar o “feitiço” no salão do hotel das férias acompanhado pelo pianista piroso,
quando reclamas o jantar assim que sais do banho, e de te ver comer chamuças,
que comas as migalhas do chão da cozinha, e que esfregues os dvd’s e os jogos da playstation no soalho da sala e ainda do requinte de colocares a parte gravada virada para baixo,
que mordas os cães do avô, e que varras as peças do tabuleiro de xadrez,
dos teu beijos e dos mimos, da maneira como te destapas à noite e de dormires com um braço para cima como eu,
de te ver despejar a comida dos peixes no aquário
da te ouvir pedir desculpa e de te fazer cócegas
de te perseguir no corredor para conseguir por soro fisiológico nas narinas ranhosas
de te balouçar embrulhado no toalhão de banho
quando imitas tudo o que o Manel faz
de te ver crescer, mas devagar
de te ver quase queimar a franja quando sopras as velas, como fizeste na segunda feira
tanto de ti meu amor. Parabéns.

A linha editorial

deste blog foi alterada. Até nem gosto de pressões no sentido de a alterar, mas o desconforto do post para o António andava a criar um certo ruído aqui perto da zona da consciência. Emendo a mão, mas sem criar hábitos de o fazer a pedido.

quarta-feira, novembro 28, 2007

O que te deu agora António?

... que andas a fazer xixi pelas pernas abaixo às duas e três vezes por dia.
Tenho cá para mim, que andas a ver televisão em demasia, o National Geographic sobretudo. Percebo que os teus irmãos te roubam todas as prendas que tens recebido e que sintas necessidade de afirmar alguns direitos de usufruto sobre as mesmas. Se, como desconfio que seja, estás a tentar marcar território como fazem algumas espécies selvagens que tanto aprecias, não o estás a fazer da forma correcta. O soalho lá de casa não é um bom local para o fazer, já que é de fácil acesso para a esfregona, que acaba por anular o efeito da tua marcação. Da próxima vez que quiseres marcar território com alguma eficácia, faz o seguinte. Arruma todos os teus pertences dentro dos cestos de brinquedo. Usa os de verga e não os de plástico, sempre são mais difíceis de lavar e a verga absorve a urina. Pões os carrinhos, as peças de lego, os peluches, as cartas de jogar, os bonecos de wrestling e as canetas todas lá para dentro. Aproveita para colocar também algumas coisas, que não sendo tuas, gostarias que fossem. As consolas dos manos, a PSP do pai e os sapatos da mãe com os quais tanto gostas de brincar. Depois baixas as calças de pijama e fazes o teu xixizinho lá para dentro. Assegura-te que regas todo o teu espólio abundantemente. Aposto que daqui a um ano ainda todos nos lembramos que aqueles são os teus pertences.

Título acidental: Novidades, novidades só o Incontinente.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Antecipação

Segundo o estudo da Nemertes Research, a capacidade da internet pode esgotar em 2010. Detalhes aqui.
Os responsáveis pelo estudo frisam que não há risco de a Internet deixar de funcionar, apenas pode vir a sofrer quebras ou lentidão nos acessos. Conhecida por ser pioneira na área das tecnologias de informação, a Netcabo, resolveu antecipar o futuro em quase três anos.

A culpa não é nossa. É deles


Não é a primeira vez que a conversa surge como pano de fundo das horas de almoço. A culpa foi minha, quando relatei com indignação um comentário xenófobo sobre os ciganos. Atropelaram-me com histórias de ciganos. Nas bombas de gasolina, nos centros de saúde, nos cafés, nos hospitais, nas lojas, nos acampamentos, nas filas de espera, nas escolas e na rua. Ranhosos, violentos, desrespeitadores, malcriados, porcos e ameaçadores. Aparentemente, o único lugar em que se comportam de forma quase aceitável, é atrás duma banca numa feira. A ideia que fica é que a ciganagem anda para aí a fazer-se de vítima e nada faz para trilhar o caminho da sã e pacata convivência.
As histórias batem certo com o que conheço, a discriminação também, tendemos a perder os brandos costumes quando se trata da raça cigana, o argumento que se segue é qualquer coisa do estilo “Neste caso mais vale estar de brandos costumes ou ainda levamos uma facada”.
Começo a achar que se trata de um daqueles casos de saber quem nasceu primeiro. Se o ovo se a galinha. Verifico que se trata de uns ovos e de umas galinhas com alguns séculos de existência:

Reinado de D. João III
1526 (Alvará de 3 de Março) «que não entrem ciganos no reino e saiam os que nele estiverem»

1538 (Lei XXIV) «sejem presos e publicamente açoutados, com baraço e pregão» «[à 2ª vez] outra vez açoitada publicamente... e perderá todo o móvel que tiver»

1557 (Lei de 17 de Agosto) Acrescenta a pena das galés

Reinado de D. Sebastião
1573 (Alvará de 14 de Março) Novo prazo de 30 dias para que saiam; senão, açoites às mulheres, galés aos homens; declara caducas as licenças de permanência anteriormente concedidas

1574 (Despacho sobre requerimento) Comutação de 5 anos nas galés por cinco anos no Brasil (a pedido do próprio)

Reinado de D. Henrique
1579 (Alvará de 11 de Abril) Concede novas licenças aos que «vivem bem e que trabalham e não são prejudiciais»; os nómadas, que «saiam do Reino dentro de trinta dias» ou «açoitado publicamente e degredado para sempre para as galés»

Reinado de D. Filipe I
1592 (Lei de 28 de Agosto) Dentro de 4 meses, se andassem em ranchos ou quadrilhas: executar com pena de morte, «sem apelação nem agravo»

A história continua até aos dias de hoje. Podia até ser algo como “Que sejam presos, impedidos de frequentar locais públicos que não feiras, ou em alternativa que se tornem jogadores do Futebol Clube do Porto”

As histórias ilustram uma difícil convivência. Mas caramba, já aprendi a conviver com tantas coisas que colidem com a minha cadeia de valores. Prefiro sempre o princípio da Presunção de Inocência. Não gosto de preconceitos, embora conviva pacificamente com quem os tem.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Pirilampos


Hoje é que foi um fartote. Não há nada que chegue a um dia de chuva depois de umas semanas de seca. O povo diz e é verdade, não há fome que não dê em fartura.
Isto é que foi dar uso aos coletinhos. Ali há semanas pendurados nas costas dos bancos do condutor e do pendura, prestes a perder a fluorescência. Já tão murchinhos, coitadinhos dos coletes. Aposto que alguns até estavam no porta luvas, ou esquecidos na bagageira, sujeitos a ganhar fungos, os coitadinhos. Eis que uns aguaceiros mais persistentes os fazem desabrochar. Raros os cruzamentos em que não apareceram dois ou três coletinhos florescentes, envergadinhos pelos seus donos, a darem luz como os pirilampos. A A5 parecia a via láctea, até brilhava em amarelo fluorescente.
Só há uma coisa que me deixa confuso. Aqui há uns anos, quando os automobilistas tinham um acidente, falavam entre eles. É certo que não brilhavam no escuro, mas falavam uns com os outros, para tratarem da declaração amigável, ou para se insultarem ou mesmo para chegarem a vias de facto. Atitudes sensatas e de estreita comunhão de um problema a resolver em conjunto. Hoje em dia, estão vestidos com os coletes brilhantes, mas falam ao telemóvel, e raramente passam cartão aos restantes acidentados. Será que estão a falar uns com os outros ?

Obrigatório

Se o teu filho do meio se dirige ao mais novo usando uma expressão típica do teu chefe, é obrigatório parar, e aproveitar a pausa para redesenhar as fronteiras entre a vida profissional e a vida familiar.
"A vida é dura meu caro !" Ninguém com dois anos lida bem com esta argumentação. Mesmo aos quarenta ...

quinta-feira, novembro 15, 2007

Deixo vinte paus na mesa vou apanhar boleia

Sempre gostei que se falasse das gentes da rádio como viajantes do éter. Ou simples assíduos frequentadores do éter. Gosto do conceito. Do que se propaga no nada. O que se propaga no inexistente.

“Éter é o nome da substância que os físicos acreditavam existir em todo o universo, mas sem massa, volume e indetectável, por não criar atrito. Os físicos do séc. XIX sabiam que a luz tinha natureza ondulatória, e imaginavam que deveria precisar de um meio para se propagar. Daí o Éter. Sabe-se hoje que essa substância não existe.”

Gosto de rádio. Ligo-o logo que acordo. Hoje trouxe-me, nos tropeções do trânsito e do tempo, a Esplanada do Trovante. 1984. Levei a minha namorada ao concerto no velho Coliseu. A Clara. O pai dela não achou grande graça ao programa, contámos com a mãe como aliada. O homem lá permitiu tamanho desvario. “Porreiro pá”. Até foi.

“Da esplanada em vão me projecto para lá de onde me sinto ...”

segunda-feira, novembro 12, 2007

Estratégia


O João Maria recebeu um tabuleiro de Xadrez de um dos amigos. Amigo, o tanas. Estupor do fedelho, aposto que não é ele que vai jogar com o lunetas bochechudo.
Não sei definir os meus conhecimentos em xadrez. Talvez com um exemplo. Da última vez que joguei, estava a fazer cheque ao rei há quatro jogadas, e nem eu nem a minha adversária demos por isso. Também caramba, um homem não pode ser bom em tudo. Eu sou muito bom na cozinha, sofrível na cama e péssimo a jogar xadrez. (por razões óbvias, qualquer comentário a este post será imediatamente eliminado, sobretudo se for escrito por alguém que não tendo provado os meus cozinhados, já jogou xadrez comigo)
Não sei o que me preocupa mais. Se ter que jogar xadrez, se correr o risco do João descobrir que afinal, não sou um super herói. Este é um daqueles mitos, que eu pretendo manter até ele estar um bocadinho mais maduro. Aí pelos quarenta e cinco ou cinquenta. E este tabuleiro não vem nada a calhar.
Por mim o António vai confundir um peão com a chucha e num repente deixa de ser possível jogar. Mas como o Pai é um super herói, vamos buscar o cabo da vassoura, cortamos 24 rodelas com a faca eléctrica da cozinha, usamos os guaches para pintar 12 de branco e doze de preto e o pai vai inventar um jogo muito giro que se joga no mesmo tabuleiro.
Até já tenho um nome para o jogo. Gajas. Hummm. Gajas não que é feio. Vamos chamar-lhe Damas. Hem, quem é que tem boas ideias ? É o super pai.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Mas onde raio ...

de sítio, é que ele largou a porcaria da Nintendo.

Desde Segunda Feira que deu pela falta da consola, que não tenho descanso. E com o feitiosinho que ele tem, muito estranho que ainda não tenha se tenha barricado na varanda, feito os irmãos reféns e exigir a consola de volta.

Já procurei em quase todo o lado, já encontrei uma série de coisas que achava que tinha perdido, mas que nesta altura já não me servem para nada, até o congelador já foi revistado, não fosse o caso do Super Mário estar com vontade de passar umas férias na neve. Nada. O estupor da maquineta teima em desaparecer. Também, da maneira como ele a trata não admira. Eu se fosse a consola dele, também dava à sola na primeira oportunidade.

O fim de semana está aí, e eu temo que, a manter-se esta situação, possamos ter alguns dissabores familiares. É que o rapaz enerva-se muito, e o atarax já está no fim do frasco. Resolvi apelar à ajuda divina e pesquisei orações para objectos perdidos. Mais uma vez é o desgraçado do António (o Santo pois então) a dar uma mãozinha (se ele descobre que o irmão do proprietário da consola se chama António, e que o proprietário o trata da maneira que trata, bem que podemos orar que a Nintendo nunca mais dá sinal de vida. António, não se deu o caso de deitares a consola do mano Manel para o lixo, não?)

Descobri então esta oração:

Oração a Santo António, para achar objectos perdidos

Eu vos saúdo, glorioso Santo António,
fiel protector dos que em vós esperam.
Já que recebestes de Deus o poder especial
de fazer achar os objectos perdidos,
socorrei-me neste momento,
a fim de que, mediante vosso auxílio,
eu encontre o objecto que procuro...

Alcançai-me, sobretudo, uma fé viva,
uma esperança firme, uma caridade ardente
e uma docilidade sempre pronta aos desejos de Deus.
Que eu não me detenha apenas nas coisas deste mundo.
Saiba valorizá-las e utilizá-las
como algo que nos foi emprestado
e lute sobretudo por aquelas coisas
que ladrão nenhum pode nos arrebatar
e nem iremos perder jamais.
Assim seja.


Esta oração é mesmo apressadinha. "Acudam-me acudam-me a encontrar o que procuro e tal. Ai se calhar é melhor ser um bocadinho mais subtil Ajuda-me lá a ter a sabedoria fé e caridade e já que estás a perder tempo comigo, aquela coisa que eu perdi, se a puseres à vista, é que me está mesmo a fazer falta. Obrigadinho Pá." ou "porreiro Pá" parafraseando o nosso Primeiro.

Hoje à noite vamos todos orar e a seguir viramos aquele quarto de brinquedos do avesso. Eu faço um interrogatório ao António, não vá o desaparecimento da dita, estar relacionado com as disputas constantes por tudo o que existe naquela abençoada casinha, com tiques de Lar.

terça-feira, novembro 06, 2007

Liga dos Campeões

Camacho diz que o jogo de hoje em Glasgow é "para homens".
Já estou a imaginar o equipamento que os homens vão usar logo à noite.

segunda-feira, novembro 05, 2007

O mais velho

Num exercício de auto avaliação, daqueles típicos de início de ano escolar, a professora perguntava porque é que, na tua opinião, as pessoas gostam de ti. A tua resposta explicava que tinha a ver com o facto de teres umas bochechas rechonchudas e queridas.
Hoje as tuas bochechas fazem nove anos, e antes de as vermos pela primeira vez, já havia quem gostasse rores de ti. Desde a ecografia em que se via um minusculo pixel a apagar e a acender e o médico ter explicado que se tratava do teu coração a bater, depois do outro médico ter dito que provavelmente eras um ovo branco (disse que não eras nada). Ainda na barriga da mãe, foste à Expo connosco e ficámos logo a gostar imenso de ti porque passámos à frente das pessoinhas todas em tudo o que era pavilhão. Depois das bochechas se terem dado a conhecer, foram classificadas como património mundial lá de casa, mas também ajuda seres querido, amigo, mimento, brincalhão, medricas, bébé, enjoadinho com os cheiros, refilão, bochecudo, e ingénuo. E teres uma pachorra interminável para os outros dois. E seres bochechudo.
Só para teres uma ideia, o Mário Soares tem umas bochechas muito melhores que as tuas, e mesmo assim, eu gosto muito mais de ti.

sexta-feira, novembro 02, 2007

O regresso da filha pródiga

Apesar da minha relação difícil com a gaja das pás rotativas, fui eu que a fui buscar ao bloco operatório. 60 euros de arranjo porque o motor de arrefecimento estava estragado. Ora porra, agora a menina tem motor de arrefecimento. É gaja, já se vê. Não tarda muito está com dores de cabeça.
O homem deu-me a menina dentro de um saco de plástico. Pouco digno para tamanha princesa
"Veja lá se o saco aguenta. Se por um azar eu a deixo cair ao chão, não me deixam entrar em casa e o fim de semana está à porta."
Lá dentro uma senhora explicava ao telefone, a lógica dos livros de receita e insistia na possibilidade de fazer leite de soja na Bimby. Se ao menos fizesse leite de vaca, sempre me poupava a subida ao terceiro andar carregadinho de dúzias de litros. Claro que não. Leite de vaca é para as vacas, e a menina que é fina, a fazer, faz leite de soja (coisa que eu duvido).
O hospital das bimby's tem muitas semelhanças com hospital das bonecas da Praça da Figueira, onde eu ia com a minha irmã e com a minha avó há 35 anos. Pelo menos as gajas são as mesmas, estão é um bocadinho mais gastas.
Vá lá ver se a menina volta sem problemas para a bancada da cozinha, é que a varinha mágica está com peneiras e não há quem a aguente.